quarta-feira, 11 de novembro de 2009

# 12 Cronenberg

Ontem fui ao Estoril Film Festival ouvir e ver David Cronenberg. Os filmes não eram novos e não foi para assistir a uma grande estreia que lá fui. Fui porque é sempre bom ouvir os próprios. Ouvir as motivações, ouvir a mensagem escondida no filme, ouvir as inquietações, os medos, as inseguranças, conhecer as influências e sentir de perto quem cria.
E fui surpreendida.
Não se pode propriamente dizer que Cronenberg seja o meu realizador preferido. Fez muitos filmes que gostei muito e nos quais reconheci o rasgo de uma identidade, a brutalidade de uma estética e a força do choque. Ao mesmo tempo, Cronenberg conseguiu muitas vezes perturbar-me e sufocar-me nos temas orgânicos e 'marados' que escolhe para os seus filmes. Portanto queria ouvi-lo, mas não esperava muito. Não porque esperasse pouco, mas porque não esperava nada.
Repito: fui surpreendida.
A simplicidade, humildade e objectividade com que se apresentou e com que falou do cinema e da sua criação conquistaram-me. Ouvi um homem determinado e resolvido que, com graça e inteligência, nos mostrou como enfrenta a rotina, como leva a indústria, os egos e as normais dificuldades de quem conjuga várias paixões e necessidades numa só vida. Sem qualquer pose de artista arrogante (aliás para ser mais correcta, de pseudo-artista arrogante, porque estou certa que ele é um artista) respondeu a todas as perguntas com paciência e vontade de partilhar. A vontade de partilhar de quem já viu e passou por muita coisa e de quem sabe quem é. Sem medo de concorrências, de ameaças ou de opiniões divergentes.
Gostei muito e agora percebo ainda melhor porque Cronenberg tem o seu nome inscrito na lista dos realizadores mais influentes. Continua sem ser o meu realizador preferido (também não consigo nomear um se me pedirem), mas não esquecerei esta conversa nocturna tão sedutora. Que bom que é ouvir quem tem algo para nos dizer e sentirmo-nos tocados sem estarmos à espera.

Sem comentários:

Enviar um comentário